“A Canção Russa, criada pelo povo, é a nossa riqueza de valor inestimável. Ela desperta em nós o sentimento de orgulho e amor à Pátria. Nela esta a alma do povo, a vida do povo em toda sua diversidade. O que pode ser mais maravilhoso que a vasta melodia russa, nascida na grande terra, no grande povo.”, é com estas palavras da mundialmente famosa cantora russa Liudmila Zykina, que ao longo de meio século, regiamente presenteou o público com a interpretação de canções russas, que gostaríamos de começar o nosso artigo sobre a Canção Russa.
A Canção Russa é um fenômeno absolutamente necessário na vida espiritual da Rússia. Este é o ar (mesma raiz da palavra em “espiritualidade” e “ar” em certo sentido, lógico), sem o qual esta vivência é impossível e impensável ( nem para o povo, nem ao individuo). E assim como nós não “valorizamos” o ar, até que começamos sufocar, não percebemos a incondicional necessidade e o valor da canção – pelo menos até o momento, quando ela começa a desaparecer.
A história da canção popular russa, estranhamente, ainda não esta completamente clara. Agora só podemos adivinhar o que estava em forma e em conteúdo da nossa canção do século XVII. Embora , sobre as canções humorísticas já foram mencionadas em Domostroi, embora lá elas são condenadas, e entre outras diversões são chamadas de demoníacas. Em tempos de Aleksei Mikhailovich, o governador de toda Volga ordenava severamente a seu ordenança: “ Onde aparecer domras e sunray, apitos, harpa, e qualquer instrumento de sopro de demônios recomendam desapropriar e quebrar, os jogos demoníacos e mandar queimar.”
Esse rigor pode ser facilmente explicado: naquela época eram reconhecidos apenas hinos sacros (psalmos, troparia, akathists), pois acreditava-se que qualquer ideia criativa, e não apoiada pela credibilidade , era falsa. Mas a perseguição por si só testemunhava: a canção folclórica existia, e respeitavam ela e temiam sua influência . Desta maneira , no século XVII, nossos ancestrais se contentavam com uma poesia puramente espiritual, ou medrosamente ouviam em festas as antigas canções folclóricas .
No século XVIII, a partir do Ocidente, fluí para a Rússia uma literatura desconhecida, as vezes estranha para ela. É claro, ninguém mais considerava a canção popular russa demoníacas, como no passado, mas o interesse por ela foi consideravelmente enfraquecido, deslocada por novas imagens e motivos estrangeiros. Na verdade, o repertório de canções folclóricas russas, depois de Pedro I, foi um pouco ampliado, graças as canções dos soldados. Ampliou-se o horizonte da canção em si, pois lenta, mas inexoravelmente, começaram a mudar o estilo de vida e as relações culturais e o olhar para a mulher. E cada fidalgo, que se preze, tinha o seu coral servo, recrutado de meninas mais vociferantes e ousados rapazes. Cuidadosamente foram colhidas coletâneas manuscritas de canções.
…. Sobre o quão importante foi a canção no alvorecer da história pátria, a prova inegável e o fato de que chegou até nós um grande elogio ao “cancioneiro”, nascido quase um milênio atrás : o profético Boyan; ele, como é de conhecimento, era proprietário de extensa ” Boyanov terra ” recebida, provavelmente, como uma recompensa pela sua arte.
Mas não vamos aprofundar no passado tão distante …
Gogol foi verdadeiramente apaixonado pela Itália e sua cultura vocal maravilhosa, mas colocava a canção russa acima . Em um de seus artigos Gogol escreveu:
“Mostre-me uma nação, que tenha mais canções. Ao longo do Volga, das cabeceiras até o mar, na fila dos barcos puxados soam as canções dos Burlakos. Sob canções são cortadas toras de pinus para construção das casas em toda a Rússia. Sob as canções das mulheres enfraldam, casam e enterram o homem russo. Nas estradas a nobreza e os humildes voam sob canções de cocheiros.
No Mar Negro o cossaco, carregando o seu mosquete, canta a velha canção, e lá, no outro extremo, montado em um bloco de gelo flutuante, um industrial russo abate com arpão uma baleia, arrastando uma canção… Mas que força, incompreensível e misteriosa da canção atraí para si? Porque que você houve e soa incessantemente nos ouvidos a sua melancolia, carregando por toda sua extensão, de mar a mar, a Canção? O que está nela, nesta canção? O que está chamando, e chorando, e agarra o coração? .. ”
Nossos eminentes criadores, A.Pushkin, M.Mussorgsky, M.Glinka, F. Chaliapin, diziam que o confessionário e a tristeza das canções russas, não são queixas descontraídas da força de vontade enfraquecida, mais sim uma declaração de grande carácter e jovialidade espiritual do povo. Milhões de pessoas adoram as canções russas pelo grandioso lirismo , pela melodia e tristeza , e pelo germe espiritual que brota no coração e alimenta-se da sinceridade humana de cada um , que ao menos uma vez ” tocou” ele com a voz.
No século XIX, não havia televisão, nem rádio ou imprensa largamente distribuída , mas era o suficiente uma pessoa levar a algum lugar distante uma canção amável pelo coração russo, ela inevitável e facilmente se tornava patrimônio de todos.
Não é possível exagerar na avaliação do papel da canção, bem como, o trabalho dos seus criadores – poetas, compositores e intérpretes.
…. E de repente:
Levante-se pais imenso,
Levante-se para a batalha mortal
Contra a força nazista escura,
Contra a horda maldita !
Deixe a fúria nobre
Ferver como uma onda!
Segue uma guerra popular,
Uma guerra sagrada.
E possível imaginar a compatibilidade da guerra e as artes? Há um velho ditado: “Quando falam os canhões , as musas silenciam”. Mas estas palavras acabaram sendo incompatíveis com a imagem do povo soviético, com sua moral, sua visão para o mundo , seu amor a vida e sua valentia. Com um único chamado o povo russo entrou na luta contra o inimigo. Não foi possível também as pessoas das artes permanecerem inativas. Os compositores russos, junto com os poetas, durante a guerra, criaram centenas de obras musicais do gênero amplo popular – as canções. A propriedade das canções e’ a operacionalidade. Ela vivamente responde a todos os acontecimentos da vida. Seu fervor espiritual inerente, e na canção russa também o da cidadania, a conexão mais estreita com a vida do país e seu povo.
O papel da canção nos anos da guerra foi extremamente elevado. Elas eram compostas sobre tudo o que estava acontecendo no front e na retaguarda, o que aquecia as almas, chamando para o heroísmo. Nelas se falava sobre o patriotismo, a fraternidade dos soldados e o amor. A canção apoiava nos momentos difíceis, trazendo o consolo, ela era necessária ao homem como o ar, com ela o coração humano não endurece. Estas melodias apoiavam e aqueciam não somente os soldados. As suas esposas, mães, filhos, elas também ajudavam, ajudavam e muito, a esperar por todos os anos de separação, e ajudavam a sobreviver a tristeza e perdas.
“Adeus, montanhas rochosas “, “Na floresta da linha de frente”, “Noite no ancoradouro”, “No abrigo subterrâneo”, “Lampejo”, “Espere por mim”, “Lencinho azul”, “Smuglianka”, “Katiusha” … você pode continuar e continuar a relação das canções do período da guerra – essas canções forjaram a vitória do povo russo.
Mas sobretudo eu quero dizer, pelo menos, um pouco sobre as canções líricas, canções sobre o amor, amizade e lealdade, sobre a Pátria, a devoção e amor a ela. A canção lírica na Segunda Guerra Mundial era uma força não menos poderosa, que levantava o espírito do povo russo e sua fé na vitória, a esperança de voltar e ter em breve o encontro com a família e amigos próximos, com os entes queridos, com o terra nativa, para o que deve se lutar bravamente. Temos que admitir que o gênero de canções líricas durante a guerra, em muitos aspectos superou o pré-guerra em volume e conteúdo.
Vitória! … E mais uma vez isso se reflete nas canções: “Eu estava retornando de Berlim”, “Estradas”, “Caminhávamos em marcha”, “É hora de seguir o caminho da …” O orgulho pelo seu país, por sua Rússia, que é o que as músicas estavam imbuídos esses anos. De acordo com seu conteúdo emocional e espiritual, as canções da guerra superaram todas as que existiam nos nossos palcos antes, e todas que surgiram em nossos palcos desde então. Durante a guerra foi quebrada a ordem habitual da penetração das canções nas pessoas: se as músicas de pré-guerra eram lançadas antes em discos, e só então, tornavam-se populares, agora, elas cantadas antes nos fronts, tornavam se populares e, em seguida, lançadas em discos. E com essas canções os críticos e a censura não podiam fazer nada – elas eram canções populares, que conquistaram em batalhas o direito de existir!
E logo uma plêiade de compositores contemporâneos talentosos continuaram a tradição de canções folclóricas russas : V.Soloviev-Sedoi, S. Tulikov, M. Dunaevsky, M. Blanter, A. Novikov, A. Pakhmutova, G.Ponomarenko, D. Tukhmanov, V. Vysotsky … Poetas: N. Dobronravov, S. Ostrovsky, L. Oshanin, M. Matusovsky, K. Vanshenkin …
Note-se cantores: MG Mordasova, K. Shulzhenko, M. Lemeshev, G.Ots,
A.Koslovski, L. Zykina, O.Voronetz, I. Kobson, V. Tolkunova, V.Visotsky,…..os quais
às vezes se tornaram co-autores de muitas canções.
A Canção Russa é o bosque de betalas brancas e névoa sobre o rio, a tempestade de neve e a primeira flor, a vastidão de campos infinitos e o céu azul com o sol carinhoso …
A Canção Russa – é o frescor da água da nascente , onde as pessoas constantemente vão busca-la e beber. E todo aquele quem canta, canta sobre sua Rússia, sua terra natal.
“Kalinka”, “Katyusha”, “Noites de Moscou” – estas canções são cartões de visita da Rússia invencível, da Grande Potencia Russa.
Quem canta, e FELIZ!
Fontes:
Yury Ponomaryov-Regente Coral Russo Melodia
O.N.Pospelov, site do Jornal Russia Soviética